Médico explica que homem atingido na cabeça por chute de PM poderia sofrer danos neurológicos graves; entenda

O g1 conversou com o neurocirurgião Gustavo Leobas, que explicou o porquê do desmaio e os danos que impactos fortes na cabeça podem causar desde danos neurológicos até a morte. O médico não esteve envolvido no atendimento de Luis.

O cérebro, que fica dentro do crânio, é um órgão muito bem protegido. Um de seus ‘escudos’ é o líquido céfalo-raquidiano, que fica ao redor do órgão e protege o cérebro contra impactos. Em casos de pancadas fortes na cabeça, esse órgão se movimenta rápido provocando um processo de aceleração e desaceleração. E por cauda desse chacoalhão que o desmaio é provocado.

“O cérebro bate na parede interna do crânio e mesmo que não frature algum osso na região, por causa dessa batida a pessoa pode na hora sofrer um apagão. Esse apagão é meio como se fosse um curto-circuito protetor do cérebro. É igual quando a gente tem um disjuntou na nossa casa. Se der uma sobrecarga na rede elétrica, aquele disjuntou vai cair automaticamente. Ele vai desligar a energia da casa para proteger a rede e não queimar nenhum aparelho. O cérebro funciona mais ou menos do mesmo jeito. Então diante de uma perturbação aguda ele vai desligar como uma medida protetora. Aí o paciente pode ficar desmaiado alguns segundos a minutos após o trauma. Quanto mais tempo ele fica desmaiado mais preocupante”, explicou Gustavo.

Os traumas na cabeça são classificados por meio da Escala de Coma de Glasgow. A gravidade dos traumas é inumerada de 3 a 15, sendo que quanto menor o número mais grave é a situação.

“Com certeza um trauma cranioencefálico (TCE) pode levar a morte. A gente classifica os traumas crânio encefálicos em leve, moderado e grave. Então se ele ganha 15, 14 ou 13 pontos ele é um TCE leve, se ele ganha 9, 10, 11 ou 12 pontos ele é um TCE moderado e se ele ganha menos que 8 pontos ele é um TCE grave. E aí o paciente Glasgow 3, que é a pontuação mínima, é aquele paciente em coma profundo que não responde a estímulo nenhum. O TCE grave ele tem uma taxa de mortalidade alta, um risco de morte bem alto”, contou o neurocirurgião.

O médico ainda lembra que a região da cabeça é muito sensível e que pancadas fortes podem provocar lesões graves, que podem ser irreversíveis.

“Pancadas muito fortes podem causar sequelas neurológicas, principalmente quando a gente tem uma hemorragia intracerebral, uma contusão cerebral, um hematoma que destrói aquela região do cérebro. Então, se o hematoma ocorre na região que controla a fala ou na região do cérebro que controla os movimentos do braço ou da perna, isso muito provavelmente pode deixar uma sequela, uma perda de força em um braço ou na perna, uma pessoa sem falar. Qualquer lesão pode provocar danos graves, que provoca um comprometimento da qualidade de vida da pessoa muito grande depois”.

Briga em Rio Sono

Vítima caiu desacordada logo após receber chute de policial militar — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Pouco tempo depois, policiais chegam ao local em uma viatura. Um deles vai em direção aos homens e chuta a cabeça de Luis Fernando Gama, de 34 anos, que cai desmaiado no mesmo instante. Ainda inconsciente o homem é arrastado pelos policiais e jogado na carroceria da viatura com a ajuda de outro militar.

Segundo parentes, Luis Fernando foi levado para a delegacia, de onde saiu acompanhado do tio que o levou para o hospital municipal. Após atendimento médico, ele recebeu alta e passa bem. Ao g1 a família da vítima disse que considera a abordagem do policial desproporcional aos acontecimentos e, por isso, pretendem denunciar o caso na corregedoria da Polícia Militar.

O que diz a PM

A Polícia Militar do Estado do Tocantins esclarece que ao tomar conhecimento do fato ocorrido na cidade de Rio Sono, na noite do sábado, 25 de maio, determinou abertura de procedimento administrativo para apurar as circunstâncias e condutas individuais de todos os envolvidos na ocorrência registrada em vídeo.

Na ocasião, a Polícia Militar do Tocantins reforça seu compromisso com a lei, a ordem e a ética, e o compromisso de proteger e garantir o bem-estar da população tocantinense.